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Tempo seco domina paisagem em Goiânia

Estiagem em Goiás deve ser pior neste ano

Segundo Cempa, Acumulados de chuva devem ser menores do que em anos anteriores, principalmente na região sul.

Fonte: Jornal O Popular
Matéria publicada no no dia 11 de julho de 2022, às 20h35
Jornalista: Malu Longo (malu.longo@opopular.com.br)

Goiás pode esperar, até o final de setembro, menos chuva, mais calor e menor umidade relativa do ar do que os valores registrados em anos anteriores. Um quadro que favorece a ocorrência de queimadas, de poluição atmosférica e consequentemente de problemas respiratórios. É o que indica o Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado (Cempa), ancorado na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Físico da atmosfera, doutor em meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Angel Domínguez Chovert disse ao POPULAR que nesta época do ano os acumulados de precipitação no Centro-Oeste são relacionados com a passagem de sistemas frontais. E os modelos meteorológicos indicam um sistema de alta pressão em níveis médios da atmosfera que inibe os movimentos ascendentes de ar, a formação de nuvens, e os registros de precipitação. Ao mesmo tempo, um fluxo intenso de oeste para leste, também em níveis médios, é localizado ao sul do continente. “Ambos sistemas favorecem o deslocamento dos sistemas frontais para o leste impedindo a chegada da chuva em Goiás.”

Julho, historicamente, é um dos meses mais secos do ano e isso não vai mudar em 2022. Conforme o físico da atmosfera do Cempa, com acumulados médios totais históricos de até 20 milímetros de chuva, o mês de julho deverá registrar valores ainda abaixo dessa média, principalmente na região que inclui Goiânia, Brasília e o centro-leste do estado. Para Angel Domínguez, o sistema frontal intenso que será observado na segunda quinzena deste mês deve provocar chuva em Mato Grosso do Sul, mas não chega a Goiás porque o deslocamento de nebulosidade será para o leste.

A atuação de uma massa de ar seco também está provocando redução da umidade relativa do ar em julho e elevação da temperatura, acima da média histórica, entre 20 e 24 graus. Esse cenário vai persistir em agosto, que tem valores médios muito baixos de precipitação acumulada, ficando entre 10 e 20 mm. A umidade relativa do ar no próximo mês em Goiás pode chegar a 10% ou 8%, ou seja, uma situação só encontrada no deserto. Abaixo de 12%, as autoridades sanitárias devem ficar atentas ao aumento de doenças relacionadas ao sistema respiratório.

Setembro

Na avaliação do Cempa, entre os meses de estiagem tradicionais no Centro-Oeste, em 2022, setembro chama a atenção por ser um período importante para a agricultura. “É quando termina o vazio sanitário e aumenta ligeiramente a precipitação na região", lembra Angel Domínguez. Em média, os valores médios mensais de precipitação em Goiás neste mês são maiores no extremo sul, ficando entre 60 e 80 mm, e menores no extremo nordeste, entre 30 e 40 mm. "Em 2022 há previsão de anomalias negativas para essa variável meteorológica em praticamente todo o estado menos para a região nordeste, onde os acumulados médios já são menores. Deve ter menos chuva principalmente no extremo sul.

Setembro, na avaliação do meteorologista do Cempa, também deverá registrar umidade relativa menor do que a média mensal histórica. Em termos de temperatura, Goiás, que tem média histórica entre 24 e 28 C no mês, a previsão é que os termômetros registrem entre 2 a 3 graus maiores, “com destaque para o sul do estado, onde a diferença pode chegar a 3,5 C”, conforme Angel Domínguez.

“Existe uma maior probabilidade de ter um trimestre com precipitação total acumulada abaixo da média histórica para o período, a umidade deverá ficar menor e as temperaturas acima da média climática, o que favorece os eventos de queimada que prejudicam o ambiente que deverá ficar bastante poluído.” Segundo o Inpe, que conta com um programa de monitoramento de queimadas, de 1º de janeiro a 10 de julho, foram registrados 1.379 focos em Goiás. Dos 26.121 identificados por satélite em todo o Brasil, 7.714 focos estavam no Mato Grosso, o campeão nesse tipo de ocorrência.

Volume de chuvas vem diminuindo gradualmente nos últimos 30 anos

Angel Domínguez explica que para efeito comparativo, os dados climáticos analisados são dos últimos 30 anos, dos quais são obtidos os valores médios de temperatura, volume de precipitação e umidade relativa do ar. Em relação às chuvas, tem sido observada uma diminuição gradual dos valores. Embora em janeiro e fevereiro deste ano tenha chovido acima da média em Goiás, principalmente na região noroeste, de março a junho as precipitações ficaram abaixo da média para o período. “Poderia ser analisado como uma compensação, mas quatro meses sem chuva causam deficiência hídrica e provocam pontos de fogo. E a tendência é que essa previsão continue.

Na semana passada, o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), André Amorim, alertou para a persistência de tempo seco, baixa umidade e amplitude térmica nos próximos dias. Uma combinação que afeta a saúde e o meio ambiente.